[COMEÇA MÚSICA INSTRUMENTAL  DE ABERTURA]

HELENA: EU SOU HELENA BERTHO E ESSE É O SEXTO E ÚLTIMO EPISÓDIO DA SÉRIE CORPO ESPECULADO – UMA PARCERIA ENTRE AZMINA E TRINTA E SETE GRAUS PRA FALAR SOBRE A CONFLITUOSA E  NÃO TÃO CIENTÍFICA RELAÇÃO ENTRE A CIÊNCIA E O CORPO FEMININO, COM O APOIO DO INSTITUTO SERRAPILHEIRA.

SARAH: E EU SOU A SARAH AZOUBEL. AO LONGO DESSA SÉRIE, A GENTE CONTOU HISTÓRIAS DE DOR, DE PRAZER, DE LOUCURA E, DE VEZES QUE O CORPO FEMININO, SEJA LÁ O QUE ISSO QUER DIZER, FOI CONTROLADO OU SIMPLESMENTE IGNORADO. [RISADAS FEMININAS AO FUNDO]

HELENA: E PRA FECHAR, HOJE EU CONVERSO COM A BIA GUIMARÃES, UMA DAS PRODUTORAS DO TRINTA E SETE GRAUS SOBRE UMA ÁREA ESPECÍFICA DA MEDICINA, QUE NÃO FOI CRIADA PRO CORPO DAS MULHERES, MUITO PELO CONTRÁRIO. MAS, QUE DEPOIS VIROU TODOS OS HOLOFOTES PRA GENTE, DE UM JEITO MEIO ESQUISITO E ATÉ OPRESSOR. [MÚSICA INSTRUMENTAL SE ENCERRA]

BIA: HELL, VOCÊ VAI ME CHAMAR DE PURITANA, MAS EU NUNCA TINHA TIRADO MINHA ROUPA NA FRENTE DE UMA CÂMERA ATÉ ALGUMAS SEMANAS ATRÁS.

HELENA: EU NÃO VOU TE CHAMAR DE PURITANA, MAS ENTÃO A GENTE VAI FALAR DE SEXTING HOJE? [BIA RI]

BIA: NÃO, NÃO É SEXTING. EU VOU FAZER UM SUSPENSE AQUI, MAS EU, EU TINHA AGENDADO, NÉ? UM HORÁRIO COM ESSE CARA PARA QUEM EU TIRARIA A ROUPA, NA FRENTE DA CÂMERA [MÚSICA DE SUSPENSE COMEÇA]. E..AÍ, UM DIA ANTES EU RECEBI UM VÍDEO DELE E ELE FALAVA ASSIM, “AH A GENTE TEM UM ENCONTRO MARCADO E EU QUERO QUE VOCÊ TIRE ESSE DIA SÓ PRA VOCÊ, PORQUE A GENTE VAI REALIZAR O SEU SONHO”. [BIA CONTINUA RINDO]

HELENA: TÔ COM AS EXPECTATIVAS ALTAS DESSE EVENTO.

BIA: VOCÊ TÁ SE VOCÊ TÁ COM EXPECTATIVA ALTA, IMAGINE EU, NO DIA.

HELENA: HAN…

BIA: É…NÃO, MAS AÍ CHEGOU O FATÍDICO DIA, NÉ? EU JÁ TINHA VISTO O VÍDEO E, E AÍ ELE ME CHAMOU – ERA UMA CHAMADA ONLINE, ELE ME CHAMOU, EU ATENDI. ESTAVA NESSE MESMO LUGAR QUE EU ESTOU FALANDO COM VOCÊ AGORA AQUI NA FRENTE DO MEU COMPUTADOR.

TRECHO DA BIA CONVERSANDO VIA CHAMADA DE VÍDEO: ESPERO QUE NÃO ESTEJA MUITO ESCURO. EU TROUXE ATÉ UMA LUZINHA AQUI VAMOS VER…

BIA: A GENTE COMEÇOU A CONVERSAR SOBRE O MEU CORPO.

TRECHO DA BIA CONVERSANDO VIA CHAMADA DE VÍDEO: UM E CINQUENTA E SETE….

BIA: PAPO VAI PAPO VEM CHEGOU A HORA DE TIRAR A MINHA BLUSA, NÉ? ELE FALOU, “AH, ENTÃO AGORA EU QUERIA QUE VOCÊ…”

TRECHO DA BIA CONVERSANDO VIA CHAMADA DE VÍDEO: VAMOS!

BIA: TIRASSE A BLUSA ASSIM. E AÍ ELE IA FALANDO ASSIM, IA DANDO INSTRUÇÕES. FICA DE FRENTE, FICA DE LADO.

TRECHO DA BIA CONVERSANDO VIA CHAMADA DE VÍDEO: SENTADA? AH TÁ!

BIA: E AÍ ELE PERGUNTOU, “AH VOCÊ TEM UMA RÉGUA, VOCÊ TEM UMA FITA MÉTRICA?” E MEDE AQUI E MEDE ALI, MÉDIA DA, DA BASE DO SEU PESCOÇO ATÉ O MAMILO DIREITO. MEDE DA BASE DO PESCOÇO ATÉ O MAMILO ESQUERDO.

TRECHO DA BIA CONVERSANDO VIA CHAMADA DE VÍDEO: E VINTE E DOIS, SÓ QUE QUASE CHEGANDO NO TRÊS…

[MÚSICA INSTRUMENTAL AUMENTA DE VOLUME]

BIA: AÍ BELEZA, ELE FALOU, “AH, PODE POR SUA BLUSA”. EU FALEI, GRAÇAS AO MEU BOM DEUS. COLOQUEI A ROUPA E ELE COMEÇOU A COMENTAR SOBRE O MEU CORPO, NÉ? AH… VOCÊ TEM UM CORPO BONITO.

HELENA: HUM….

BIA: VOCÊ TEM UM CORPO LEGAL. MAS, NÉ, A GENTE PODE MELHORAR ISSO, PORQUE FALTA A CEREJA DO BOLO.  ELE USOU ESSAS PALAVRAS, “A CEREJA DO BOLO” [AMBAS RIEM] É… ESTAVA PENSANDO AÍ EM DUZENTOS E OITENTA MLS DE SILICONE, EM CADA PEITO.

HELENA: A CEREJA DO BOLO!

TRECHO DA BIA CONVERSANDO VIA CHAMADA DE VÍDEO: ENTENDI. ESTÁ BOM DOUTOR, OBRIGADA! 

BIA: TALVEZ VOCÊ TENHA PERCEBIDO JÁ, QUE ISSO ERA UMA CONSULTA COM O CIRURGIÃO PLÁSTICO.

HELENA: É, ESTAVA DANDO PRA PERCEBER.

[MÚSICA INSTRUMENTAL SE ENCERRA]

BIA: E FOI ASSIM COISA DE DEZ, QUINZE MINUTOS, PÁ PUM. ME PEDIU ALGUNS EXAMES E MAS TIPO BOA HORA, BORA MARCAR ESSA CIRURGIA, VAI SER INCRÍVEL. É…VAMOS REALIZAR O SEU SONHO! NEM FALOU ASSIM DE RISCO DE CIRURGIA, NÃO TEVE MUITA PERGUNTA SOBRE A MINHA, SOBRE ESSA DECISÃO, NÉ? POR QUE QUE VOCÊ QUER POR SILICONE?

 HELENA: E, CALMA, SÓ QUE VOLTA….

 BIA: DIGA! 

HELENA: ME EXPLICA. É… POR QUE VOCÊ FOI NO CIRURGIÃO PLÁSTICO?

BIA: EU FUI NO CIRURGIÃO PLÁSTICO, INCLUSIVE NÃO FUI SÓ NESSE, POR CONTA DESSA PAUTA. ENTÃO NÃO, NÃO ESTÁ NO MEU PLANO COLOCAR A PRÓTESE DE SILICONE, MAS SE EU TE DISSER QUE ISSO NUNCA PASSOU PELA MINHA CABEÇA É… EU VOU ESTAR MENTINDO. É ASSIM, INCLUSIVE EU TENHO UMA LEMBRANÇA DE QUANDO EU TINHA UNS TREZE, QUATORZE ANOS DE IDADE, EU CHORANDO EM CASA COM A MINHA MÃE, “AI PORQUE MINHAS AMIGAS TÊM PEITO E EU NÃO”. E EU ATÉ LEMBRO QUE MINHA MÃE COM DÓ FALOU PRA MIM, “AI, CALMA VAI FICAR TUDO BEM, QUEM SABE QUANDO VOCÊ FIZER DEZOITO ANOS, É… VOCÊ PODE VER DE COLOCAR SILICONE”, TENTANDO ME CONSOLAR. ENTÃO, SE EU FALAR PRA VOCÊ QUE, QUE É, É TALVEZ EU NUNCA TIVESSE ME IMAGINADO NA FRENTE DO COMPUTADOR TIRANDO A BLUSA COM O CIRURGIÃO PLÁSTICO, MAS SE EU DISSER QUE EU NUNCA ME IMAGINEI COM PRÓTESE DE SILICONE, EU VOU ESTAR MENTINDO.

HELENA: TÁ.

BIA: E EU SEI QUE EU NÃO SOU EXCEÇÃO.

[MÚSICA INSTRUMENTAL VOLTA]

TRECHOS DE REPORTAGENS DA TELEVISÃO [VOZES FEMININAS]: O BRASIL OCUPA O SEGUNDO LUGAR NO DE CIRURGIAS PLÁSTICAS / A CIRURGIA DAS PÁLPEBRAS É A TERCEIRA MAIS PROCURADA NO PAÍS, ATRÁS APENAS DAS PRÓTESES E MAMAS E LIPOASPIRAÇÃO DO ABDÔMEN. / SE FOSSE PRA MUDAR ALGUMA COISA NO SEU CORPO, O QUE QUE VOCÊ MUDARIA? TIRAR A BARRIGA / EU QUERIA MUDAR OS SEIOS.

BIA: E A GENTE VIVE, NÉ? UM BOMBARDEIO DE TODOS OS LADOS ASSIM, NÃO É DE HOJE? [VOZES FEMININAS CONVERSANDO AO FUNDO]

HELENA: TEM UM BOMBARDEIRO TANTO DE IMAGEM DE CIRURGIA PLÁSTICA, QUANTO DE IMAGEM DE CORPOS IDEAIS, NÉ? SE VOCÊ FOR PENSAR TAMBÉM.

 BIA: SIM!

TRECHOS DE REPORTAGENS DA TELEVISÃO [VOZ MASCULINA]: A BUSCA PELO CORPO PERFEITO, CURVAS E FORMAS DEFINIDAS…

BIA: E O DOIDO PRA MIM, É QUE DESSE MOMENTO QUE A GENTE ESTÁ VIVENDO, É QUE PARECE QUE AO MESMO TEMPO A GENTE ESTÁ DESCONSTRUINDO A IDEIA DE CORPO PERFEITO, “AH VIVA A DIVERSIDADE, TODOS OS CORPOS SÃO LINDOS E TAL”. MAS, AÍ VOCÊ CAI NA REAL E VÊ QUE…

TRECHOS DE REPORTAGENS DA TELEVISÃO [VOZ MASCULINA]: A PROCURA POR CIRURGIA PLÁSTICA TEM AUMENTADO ENTRE JOVENS NO PAÍS, DE TREZE A DEZOITO ANOS…

BIA: NUNCA TEVE TANTO PROCEDIMENTO DE TRANSFORMAÇÃO CORPORAL COMO TEM HOJE. NUNCA TEVE TANTO TIPO TAMBÉM. 

TRECHOS DE REPORTAGENS DA TELEVISÃO [VOZ MASCULINA]: NAS PARTES ÍNTIMAS TU JÁ OUVIU ISSO?

BIA: E… TALVEZ VOCÊ SAIBA DISSO, MAS A CIRURGIA PLÁSTICA SE DIVIDE EM ESTÉTICA E REPARADORA, NÉ? REPARADORA, ENTÃO A RECONSTRUÇÃO DE MAMA, LÁBIO LEPORINO E TAL. E, E SEGUNDO O ÚLTIMO CENSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA PLÁSTICA, SESSENTA POR CENTO DAS CIRURGIAS PLÁSTICAS NO BRASIL SÃO PRA FINS ESTÉTICOS.

 [MÚSICA INSTRUMENTAL AO FUNDO SE ENCERRA]

BIA CONTINUA: ENTÃO A GENTE TEM MAIS DA METADE DE UMA ÁREA DA MEDICINA VOLTADA PRA BELEZA.

HELENA: AHN…

BIA: E OUTRA COISA INTERESSANTE QUE OS DADOS APONTAM É QUE A MAIORIA DOS CIRURGIÕES PLÁSTICOS NO BRASIL É HOMEM. ENQUANTO NA MESA DE CIRURGIA, NÉ? A MAIORIA DOS PACIENTES É MULHER. O CENSO MUNDIAL FALA QUE MAIS DE OITENTA E CINCO POR CENTO DOS PACIENTES É MULHER.

HELENA: CARAMBA, É MUITO! TÁ. 

[MÚSICA INSTRUMENTAL COMEÇA AO FUNDO] 

BIA: E TEM VÁRIAS COISAS QUE ME DEIXAM INTRIGADA NESSA HISTÓRIA E QUE E, QUE ME TROUXERAM PRA ESSE EPISÓDIO [BIA RI]. MAS, A PRIMEIRA É COMO A BELEZA E A CIRURGIAS PLÁSTICAS ESTÉTICAS, NÉ? ELAS SÃO VENDIDAS PRAS MULHERES, TAMBÉM PROS HOMENS CLARO, MAS ESPECIALMENTE PRAS MULHERES COMO ITENS DE SAÚDE. COMO ALGO QUE A GENTE PRECISA PRA, PRA VIVER BEM, PRA SER FELIZ. É A REALIZAÇÃO DO SEU SONHO, É A SUA AUTOESTIMA, SEU BEM-ESTAR, SUA SAÚDE MENTAL…

HELENA: HUM…

BIA: E OK, ACHO QUE NÃO É DIFÍCIL DE ENTENDER QUE EXISTE UMA CONEXÃO ENTRE BELEZA E AUTOESTIMA, QUE CONSEQUENTEMENTE VAI ESBARRAR NA SAÚDE E TAL. MAS AÍ A GENTE SE PEGA PENSANDO, TÁ, MAS ONDE É QUE ESTÃO AS FRONTEIRAS, NÉ? E O QUE QUE TEM POR TRÁS DE TUDO ISSO? O QUE QUE TEM POR TRÁS DESSE MERCADO DA CIRURGIA PLÁSTICA, ESTÉTICA? E QUAL QUE É O CUSTO DESSA CEREJA DO BOLO? ASSIM, ISSO QUE EU QUERIA DESCOBRIR COM ESSE EPISÓDIO.

HELENA: ESTOU CURIOSA PRA VER SE TEM UMA RESPOSTA.

[MÚSICA INSTRUMENTAL AO FUNDO AUMENTA DE VOLUME POR UM SEGUNDO E ENCERRA]

BIA: MAS, ANTES DE FOCAR NESSAS PERGUNTAS, EU QUERIA FAZER UMA BREVE VOLTA NO TEMPO. PORQUE, SE HOJE AS MULHERES SÃO MAIS DE OITENTA E CINCO POR CENTO NA MESA DE CIRURGIA, CEM ANOS ATRÁS QUANDO A, A ÁREA DA CIRURGIA PLÁSTICA COMEÇOU A SE ESPECIALIZAR, SE CONSTRUIR, NÉ? DE FORMA MAIS MODERNA. AS COISAS ERAM COMPLETAMENTE DIFERENTES.

HELENA: ERA PRA HOMEM? 

BIA: AHAM! DÁ PRA DIZER QUE ERA PRA HOMEM. E QUEM ERAM ESSES HOMENS? ERAM OS FERIDOS DE GUERRA. [BARULHO DE BOMBAS DE GUERRA AO FUNDO E MÚSICA ANTIGA] É… HOMENS QUE BATALHAVAM NAS GRANDES GUERRAS MUNDIAIS DOS, DO COMEÇO DO SÉCULO VINTE, VOLTAVAM COM QUEIMADURAS, COM PEDAÇO DO, DO ROSTO FALTANDO É… DEFORMADOS DIGAMOS ASSIM, NÉ? A GENTE USA PALAVRAS QUE NÃO SÃO TÃO BONITAS, MAS QUE, QUE DIZEM MUITA COISA. E VOLTAVAM DESFIGURADOS, NÉ?

 TRECHO EM INGLÊS DE REPORTAGEM NA GUERRA: SMOKE FROM THE TENTS OF A FIELD HOSPITAL TELLS THE STORY OF ANOTHER BATTLE.

BIA CONTINUA: E AÍ, OS HOSPITAIS QUE RECEBIAM ESSES FERIDOS, OS MÉDICOS TINHAM QUE LIDAR COM ISSO. ENTÃO, FORAM APRIMORANDO TÉCNICAS DA MEDICINA QUE JÁ EXISTIAM, TÉCNICAS DE ENXERTO, POR EXEMPLO. MAS, TAMBÉM FORAM FAZENDO, FAZENDO MUITOS EXPERIMENTOS NOVOS, NÉ? TESTAR ISSO, TESTAR AQUILO, FAZ TAL COISA COM A PELE, A CARTILAGEM, A IRRIGAÇÃO, COMO É QUE A GENTE VAI RECONSTRUIR, NÉ? ESSA, ESSE CORPO, ESSE ROSTO, PÕE AQUI E TIRA DALI.

[MÚSICA AO FUNDO SE ENCERRA]

HELENA: FOI MEIO QUE, ESTAVA ROLANDO A GUERRA NA EUROPA INTEIRA, ENTÃO EM VÁRIOS PAÍSES TINHA GENTE TESTANDO AO MESMO TEMPO, ERA ISSO?

BIA: A INGLATERRA FOI UM DOS LUGARES QUE ISSO TEVE BASTANTE DESTAQUE. ENTÃO, ERA COMO QUE UMA MISSÃO PRA DEVOLVER DIGNIDADE PRA ESSES HOMENS QUE FORAM, LUTARAM PELA SUA PÁTRIA E AGORA VOLTARAM. PRECISAM VOLTAR UMA VIDA NORMAL ASSIM, ENTRE ASPAS E DESSE JEITO NÃO DÁ. TIPO ASSIM, PORQUE DEPOIS VOCÊ, VOCÊ PODE OLHAR, VOCÊ HELENA E VOCÊ QUE ESTÁ OUVINDO O EPISÓDIO – A GENTE PODE DEIXAR NAS REFERÊNCIAS DO EPISÓDIO NO SITE, ALGUMAS FOTOS DE ANTES E DEPOIS, ASSIM, PORQUE É REALMENTE MUITO CHOCANTE, ASSIM VER ESSAS É… ESSES SOLDADOS, ESSES PILOTOS E TAL.

HELENA: NOSSA!

BIA: ENTÃO, ESSE PERÍODO MARCOU MUITO A CIRURGIA PLÁSTICA, TEVE MUITO AVANÇO, MUITOS AVANÇOS NESSA ÉPOCA. ERA TUDO MUITO EXPERIMENTAL. ENTÃO, OBVIAMENTE MUITOS DESSES PROCEDIMENTOS NESSES CARAS NÃO DERAM CERTO, TIVERAM QUE PASSAR POR VÁRIOS E VÁRIOS PROCEDIMENTOS, INCLUSIVE TINHAM GRUPOS DE APOIO, NÉ? TEVE UM GRUPO QUE FICOU FAMOSO QUE É O GUINEA PIG CLUB, NÉ? MEIO QUE UM GRUPO DOS COBAIAS ASSIM DA, DA CIRURGIA PLÁSTICA.

[COMEÇA MÚSICA QUE LEMBRA TESOURAS ABRINDO E FECHANDO] 

BIA CONTINUA: E A CIRURGIA PLÁSTICA, CLARO, NUNCA DEIXOU DE SER ESSA ESPECIALIDADE RESPONSÁVEL PELOS REPAROS DO CORPO, AS RECONSTRUÇÕES DO CORPO FERIDO, O CORPO NECESSITADO. MAS EM PARALELO, VOCÊ DEVE IMAGINAR, E AO LONGO DAS DÉCADAS SEGUINTES, NÉ? A CIRURGIA PLÁSTICA ESTÉTICA TAMBÉM PASSOU, COMEÇOU A FLORESCER MAIS. ENTÃO A PARTIR DO DESENVOLVIMENTO DAS TÉCNICAS DE REPARO QUE VIERAM COM A GUERRA, OS PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS TAMBÉM FORAM CRESCENDO, FORAM AVANÇANDO. E AÍ O QUE ANTES ERA MAIS PRA CORRIGIR DEFEITOS, ENTRE ASPAS, DO CORPO, DO ROSTO, JÁ COMEÇA A SER PENSADO NÃO EXATAMENTE PRA UM CONSERTO, MAS PRA UM APRIMORAMENTO DA APARÊNCIA. ENTÃO, COMO É QUE A GENTE VAI MELHORAR ESSE NARIZ, COMO É QUE A GENTE VAI ALCANÇAR UM NARIZ MAIS BONITO? COMO É QUE A GENTE VAI MELHORAR ESSE CORPO, COMO QUE A GENTE VAI DEIXAR ESSE CORPO MAIS BONITO. O CORPO PERFEITO, NÉ? O ROSTO PERFEITO. ISSO ACABA VIRANDO UM SEGUNDO LADO DA CIRURGIA PLÁSTICA.

HELENA: FIQUEI PENSANDO NO SILICONE, NÉ? PORQUE É UMA COISA É AS CIRURGIA REPARADORAS, ENFIM DO, DO CORPO MASCULINO E TAL. DAÍ EU PENSEI EM SILICONE PROVAVELMENTE SURGIU TAMBÉM COMO UMA RESPOSTA A PRIMEIRA VEZ QUE TIVERAM QUE TIRAR O SEIO DE UMA MULHER POR CAUSA DE CÂNCER DE MAMA, FOI ISSO?

[MÚSICA AO FUNDO SE ENCERRA]

BIA: MAIS OU MENOS, MAIS OU MENOS…

HELENA: NÃO?

BIA: É, BOM, NA VERDADE TEM MUITA COISA ANTES DE INVENTAREM A PRÓTESE DE SILICONE. TEM ATÉ UMA HISTÓRIA BEM FAMOSA, QUE É CONHECIDA COMO UMA DAS PRIMEIRAS CIRURGIAS DE AUMENTO DE MAMA. QUE É UM MÉDICO ALEMÃO, LÁ NO FINAL DO SÉCULO 19, QUE ELE TIRA UM CAROÇO DO SEIO DE UMA PACIENTE E AÍ PRA REPOR ESSA MAMA DELA ELE PEGA UM LIPOMA, UMA FORMAÇÃO DE GORDURA QUE ELA TINHA NAS COSTAS E PÕE NO SEIO. É, E AÍ, BOM, ELA TEVE UM PROBLEMA E TAL, NÃO FOI PURAMENTE ESTÉTICO. MAS VOCÊ PERGUNTOU DA PRÓTESE DE SILICONE, NÉ?

HELENA: SIM.

BIA: É, A PRÓTESE DE SILICONE JÁ FOI UMA COISA MAIS DOS ANOS SESSENTA. E A PRIMEIRA MULHER A COLOCAR PRÓTESE DE SILICONE CHAMAVA  TIMMIE JEAN LINDSEY, [RECOMEÇA MÚSICA DE TESOURAS] LÁ NOS ESTADOS UNIDOS, E ELA NÃO TINHA CÂNCER NEM NADA, INCLUSIVE TEM ENTREVISTAS DA ÉPOCA QUE ELA FALA QUE NÃO SE INCOMODAVA COM O TAMANHO DO PEITO, ISSO NÃO ERA UMA QUESTÃO PRA ELA. MAS ELA FOI NO HOSPITAL FAZER UM OUTRO PROCEDIMENTO MÉDICO, E AÍ UMA DUPLA DE CIRURGIÕES PLÁSTICOS ALI DO HOSPITAL OFERECEU PRA ELA, ASSIM, “AH A GENTE ESTÁ AQUI COM ESSA NOVIDADE, QUE É UMA PRÓTESE DE SILICONE QUE A GENTE COLOCA PRA AUMENTAR O PEITO. VOCÊ NÃO TEM INTERESSE DE COLOCAR? VAI FICAR BONITA E TAL”. E ELA TOPOU, E A TIMMIE JEAN LINDSEY ENTÃO FOI A PRIMEIRA MULHER A TER UMA PRÓTESE DE SILICONE. MAS, ANTES DE INVENTAREM A PRÓTESE DE SILICONE, ESSA BOLSINHA DE SILICONE, TEVE MUITAS OUTRAS TENTATIVAS ATÉ MEIO BIZARRAS COM OUTROS MATERIAIS. TEM RELATOS QUE FALAM DE UM TIPO DE MADEIRA…

HELENA: MADEIRA? 

BIA: ESPONJA, PARAFINA… O SILICONE LIVRE, NÉ? SEM SER NA BOLSINHA QUE A GENTE CONHECE HOJE. É BEM…[RISOS]

HELENA: GENTE….

BIA: ENTÃO, RESPONDENDO A SUA PERGUNTA, É CLARO QUE TODOS ESSES EXPERIMENTOS RESULTARAM NUMA PRÓTESE DE SILICONE QUE É USADA PRA REPARAÇÃO NÉ? VOCÊ FALOU DO, DO CÂNCER DE MAMA E TAL. ISSO, CLARO.  MAS QUANDO A GENTE PARA PRA PENSAR NA TIMMIE JEAN LINDSAY, E VÁRIOS PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS QUE TEVE ANTES E DEPOIS DELA, PELO MUNDO, A COISA DA ESTÉTICA ESTAVA MUITO PRESENTE TAMBÉM.

HELENA: É ESTRANHO OUVIR… NESSA ÉPOCA NÃO TINHA UM CONTROLE PRA ESSES EXPERIMENTOS UMA PESQUISA COM UM GRUPO DE PESSOAS ANTES NOS TESTES, NÃO SEI, COM ACOMPANHAMENTO APROVAÇÃO DE ALGUM ÓRGÃO OFICIAL?

BIA: EU DIRIA QUE DE UM JEITO SUPER ORGANIZADO, NÃO!

HELENA: TÁ.

[MÚSICA INSTRUMENTAL ENCERRA]

BIA: PORQUE SE VOCÊ FOR OLHAR ESSAS TENTATIVAS ANTERIORES BIZARRAS QUE EU CITEI, ERA MEIO ASSIM, “AH NO FINAL DO SÉCULO DEZENOVE O MÉDICO TAL, DE TAL LUGAR TENTOU É… IMPLANTAR NUMA PACIENTE COM, COM PARAFINA E VASELINA”, SEI LÁ. DEU ERRADO E AÍ TEVE QUE TRATAR A PACIENTE QUE DEU PROBLEMA, ASSIM. E AÍ TEMPOS DEPOIS O FULANINHO DE TAL VAI TENTAR INJETAR SILICONE LIVRE, NÉ? SEM A PRÓTESE, NA PACIENTE. AÍ, TAMBÉM DÁ SUPER ERRADO, TEM QUE FAZER MASTECTOMIA. É… ENTÃO, VEM UMA SEQUÊNCIA DE TENTATIVAS QUE PEGA UMA ÉPOCA QUE, EM QUE AS TÉCNICAS ERAM TESTADAS MEIO QUE DIRETO NAS PESSOAS, NÉ? USANDO, DE NOVO, USANDO CONHECIMENTOS JÁ ADQUIRIDOS PELA MEDICINA, TAL. MAS EXPERIMENTAL, ASSIM. 

HELENA: É, NOSSA… E, E TAMBÉM VOCÊ FALANDO QUE É… NÉ? QUE COMEÇOU A VIR NESSE CAMINHO DE TER NARIZ PERFEITO, ROSTO PERFEITO, CORPO PERFEITO. QUEM QUE DETERMINAVA? TINHA ALGUÉM QUE DETERMINAVA QUE ERA PERFEITO? QUEM QUE DIZIA O PADRÃO QUE TINHA QUE SER SEGUIDO?

BIA: OLHA, NÃO MUITO DIFERENTE DE COMO É O HOJE, ASSIM. ENTÃO DE UM POUCO DE, DE MODA DA ÉPOCA, MAS TAMBÉM DOS ESTEREÓTIPOS DO QUE QUE É CONSIDERADO FEMININO, ESTEREÓTIPOS DE RAÇA TAMBÉM, NÉ? ENTÃO AH É… MULHER TEM QUE TER PEITO PORQUE PEITO É UM SINAL DA FEMINILIDADE, NÉ? OU ATÉ DA, DESSA FUNÇÃO DA REPRODUTIVA DA MULHER, NÉ? A MULHER TEM QUE TER PEITO E TAL. MAS, TAMBÉM PEITO DEMAIS PODE SER É…CONSIDERADO UMA COISA DE MULHERES DE CLASSE MAIS BAIXA, MUITAS VEZES, ERA UMA RELAÇÃO FEITA ATÉ COM O CORPO DE MULHERES NEGRAS. ENTÃO NÃO, ENTÃO O PEITO PERFEITO É AQUELE QUE NÃO É, NEM MUITO GRANDE, NEM MUITO PEQUENO E É REDONDINHO, É… É SUSTENTADO ALI, NÉ? [MÚSICA INSTRUMENTAL RETOMA]

TRECHO DE ENTREVISTA COM FABÍOLA: ENTÃO, É CLARO QUE, E EU ACHO IMPORTANTE A GENTE FALAR QUE AS MULHERES OU QUALQUER PESSOA TEM DIREITO, NÉ, AS POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO, DE TRANSFORMAÇÃO….

[MÚSICA INSTRUMENTAL ENCERRA]

BIA: EU CONVERSEI COM UMA ANTROPÓLOGA QUE PESQUISA, ENTRE MUITAS COISAS, ESSE CENÁRIO DAS CIRURGIAS PLÁSTICAS, A FABÍOLA ROHDEN, QUE TAMBÉM PARTICIPOU DO EPISÓDIO SOBRE HISTÓRIAS DA GINECOLOGIA, PROFESSORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL…

TRECHO DE ENTREVISTA COM FABÍOLA: MAS O QUE ME INTERESSA É CHAMAR ATENÇÃO A COMO ISSO NA NOSSA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA HOJE, ESTÁ ATRELADO, NÉ? A DETERMINADAS MARCAS DE GÊNERO E A DETERMINADAS DESIGUALDADES, QUE EU ACHO QUE A GENTE PRECISA COLOCAR EM CENA. 

[MÚSICA INSTRUMENTAL COMEÇA]

BIA: ENTÃO QUANDO A GENTE VAI VER ESSES PADRÕES ESTÉTICOS DA FEMINILIDADE, ASSIM, NA VERDADE ELES TAMBÉM CASAM MUITO COM O QUE É BRANCO, COM O QUE É EUROPEU, COM O QUE É UMA MULHER JOVEM, É CHEIO DE DE COISAS.

HELENA: UHUM. 

BIA: E ELES TAMBÉM VÃO MUDANDO CONFORME O TEMPO PASSA, NÉ? É GENTE QUE TEM AÍ, NÃO TANTAS DÉCADAS DE VIDA, JÁ VIU ESSE PADRÃO MUDAR ALGUMAS VEZES, NÉ? ENTÃO, SE PARAR PRA PENSAR O QUE QUE ERA OS ANOS DOIS MIL ALI DOIS MIL E DEZ, AS PANICATS…

[MÚSICA INSTRUMENTAL ENCERRA E DÁ INÍCIO A TRECHOS DE PROGRAMAS DE TELEVISÃO]

HELENA: CLARO!

TRECHO DO PROGRAMA PÂNICO DA TV BANDEIRANTES [VOZES MASCULINAS]: BUZANFA, BUMBUM, GLÚTEO, NÁDEGA.

BIA: PEITÃO, BUNDÃO, COXÃO, CINTURINHA. 

TRECHO DO PROGRAMA PÂNICO NA TV: EU ADORO PEITINHO COM FAROFA. É UMA COISA QUE EU GOSTO MUITO. ESPETINHO COM FAROFA!

[MÚSICA INSTRUMENTAL RETOMA]

TRECHO DE ENTREVISTA COM LARISSA: BOM, A GENTE ESTAVA NAQUELA ÉPOCA, ASSIM EM DOIS MIL E DEZ, ONZE E DOZE E, QUE ERA O BOOM DA GENTE VER MULHERES SARADAS, COM SILICONE, PANICATS E TUDO MAIS, NÉ?

[MÚSICA INSTRUMENTAL ENCERRA]

BIA: INCLUSIVE EU CONVERSEI COM A LARISSA DE ALMEIDA, QUE É UMA PROFESSORA DE PORTUGUÊS LÁ DO CEARÁ, QUE COLOCOU SILICONE É… NOS SEIOS BEM NESSA ÉPOCA AÍ DA DAS PANICATS. E HOJE ELA PROBLEMATIZA O JEITO COMO TUDO ISSO É VENDIDO, COMO ESSA ESCOLHA É FEITA.

TRECHO DE ENTREVISTA COM LARISSA: O VOLUME PEQUENO NOS SEIOS NUNCA FOI ALGO QUE REALMENTE ME INCOMODOU. MAS, O QUE ME LEVOU REALMENTE ERA UMA UMA COMO É QUE EU POSSO DIZER? UMA SENSAÇÃO DE QUE AQUILO PODERIA SER ALGO SEGURO E DE QUE SERIA UM INVESTIMENTO NA MINHA PRÓPRIA AUTOESTIMA, NO MEU CORPO, PRA MINHA AUTOIMAGEM. NÃO QUE EU ESTIVESSE ME SENTINDO PÉSSIMA, FEIA, HORROROSA E SOFRESSE BULLYING E TUDO MAIS. MAS, EU ACHAVA QUE EU IRIA FICAR MAIS BONITA, NÉ? 

BIA: E EU JÁ VOU VOLTAR NA HISTÓRIA DA, DA LARISSA DE ALMEIDA. QUERO FALAR O QUE AS CONSEQUÊNCIAS QUE A PRÓTESE TEVE NA VIDA DELA, NÉ? E O QUE QUE ELA TEM FEITO HOJE DISCUTINDO TODO ESSE CENÁRIO. MAS, POR EXEMPLO, TEM TRABALHOS QUE A FABÍOLA FEZ OU QUE A FABÍOLA ORIENTOU QUE CONTAM ALGUMAS FRASES ASSIM, DISCURSOS, NÉ? DOS MÉDICOS NOS [MÚSICA INSTRUMENTAL RECOMEÇA] CONSULTÓRIOS DE CIRURGIA PLÁSTICA. TEM UMAS COISAS BEM BIZARRAS. ENTÃO, É, POR EXEMPLO, AH, MÉDICO QUE FALA, “AH, A MENINA COLOCA PRÓTESE DE SILICONE E FLORESCE, ELA VIRA MULHER, NÉ?” [HELENA RI] 

BIA CONTINUA: A MULHER QUE ERA VISTA COMO SÓ COMO UMA ESTUDANTE DE DIREITO, COLOCA PRÓTESE VIRA DOUTORA, ADVOGADA. 

HELENA: NOSSA SENHORA!

BIA: É…OU O MÉDICO FALA PRO PAI DA DA MOÇA QUE TÁ COLOCANDO SILICONE, “AH l, O SENHOR FICA TRANQUILO QUE AGORA SUA FILHA VAI ARRUMAR NAMORADO”. 

HELENA: ENTÃO É MUITO UM REFORÇO DE TUDO AQUILO QUE É ESTEREÓTIPO DE GÊNERO E MACHISMO, NÉ? 

BIA: TOTAL, TOTAL. E EU SEI QUE NA, NA REVISTA AZMINA VOCÊ VOCÊS GOSTAM DE BRINCAR, NÉ? QUE AH VOCÊS, QUE AS PESSOAS DIZEM, “AH, VOCÊS VEEM GÊNERO EM TUDO, ASSIM”. E DEFINITIVAMENTE NÃO TEM COMO NÃO VER GÊNERO NA, NA CIRURGIA PLÁSTICA. ENTÃO… ESSA QUESTÃO FOI LEVANTADA INCLUSIVE NAS REDES SOCIAIS, ASSIM. [MÚSICA INSTRUMENTAL ENCERRA] EU SENTI QUE NOS ÚLTIMOS TEMPOS FOI UM UM DEBATE QUE QUE AMPLIFICOU, ASSIM, NAS REDES. ENTÃO EU VI DIFERENTES POSTS VIRAIS QUESTIONANDO O FATO DA GENTE CHAMAR DE CIRURGIA DE AFIRMAÇÃO DE GÊNERO, NÉ? OU TERMOS PARECIDOS. É…SEMPRE QUE É UMA PESSOA TRANS FAZENDO UMA CIRURGIA PLÁSTICA, NÉ? ENTÃO POR EXEMPLO, UMA MULHER TRANS COLOCANDO SILICONE, AÍ VAI LÁ E SE CHAMA DE CIRURGIA DE AFIRMAÇÃO DE GÊNERO, NÉ? [MÚSICA INSTRUMENTAL RETOMA] MAS, QUANDO É UMA MULHER CIS, NÉ? TIPO EU, A GENTE NÃO CHAMA DISSO. MEIO ESTRANHO, NÉ? SENDO QUE TAMBÉM, TEM ESSE DISCURSO DE SE TORNAR MAIS MULHER. 

HELENA: ACHEI ACHEI ÓTIMO, ACHEI UMA REFLEXÃO MUITO BOA!

BIA: E.. AH E TAMBÉM RECENTEMENTE VI, AS PESSOAS DISCUTINDO NAS REDES SOCIAIS SOBRE O FATO DE TEM GENTE QUE CHAMA DE, QUE USA A PALAVRA FEMINILIZAÇÃO PRA ALGUMAS CIRURGIAS. E AÍ, NA VERDADE, SÃO CIRURGIAS QUE É PRA APROXIMAR APARÊNCIA DAQUELA PESSOA DE UM PADRÃO DE BELEZA,  DE NOVO, BRANCO, EUROPEU. ENTÃO, VOCÊ VAI LÁ E CHAMA DE FEMINILIZAÇÃO FACIAL. E AÍ, É UM PROCEDIMENTO ESTÉTICO QUE É PRA AFINAR O NARIZ. ENTÃO, POR QUE QUE O NARIZ FINO OU O NARIZ É…RECONHECIDO COMO NARIZ DO BRANCO, NÉ? É CONSIDERADO O IDEAL DE FEMININO, NÃO É? ENTÃO…

[MÚSICA INSTRUMENTAL ENCERRA]

HELENA: SIM.

BIA: É… ENFIM. E OBVIAMENTE O, O FOCO AQUI NÃO É CRITICAR O QUESTIONAR QUEM ESTÁ FAZENDO ESSES PROCEDIMENTOS, QUALQUER PROCEDIMENTO QUE SEJA. MAS, SIM, É O JEITO COMO AS COISAS SÃO EMBALADAS, NÉ? 

HELENA: UHUM.

TRECHO DE ENTREVISTA COM FABÍOLA: EU VEJO A AUTOESTIMA SENDO USADA MUITAS VEZES NO DISCURSO MÉDICO COMO UMA CATEGORIA VAZIA. QUE QUE EU QUERO DIZER COMO UMA CATEGORIA VAZIA? É UMA CATEGORIA ONDE CABE QUASE QUE ABSOLUTAMENTE TUDO E QUALQUER COISA. ENTÃO, ELA SERVE DE JUSTIFICATIVA PARA VOCÊ FAZER QUASE QUE QUALQUER INTERVENÇÃO CIRÚRGICA [RISOS], NÉ? NÃO, VAMOS FAZER PORQUE VAI MELHORAR A AUTOESTIMA. A MINHA PERGUNTA COMO ANTROPÓLOGA, E É ESSA PERGUNTA QUE EU FAÇO – BOM MAS POR QUE ESSA AUTOESTIMA ESTÁ TÃO COMPROMETIDA, NÉ? ELA ESTÁ COMPROMETIDA PORQUE DE FATO ESSA MULHER PERCEBE ALGUMA QUESTÃO NO SEU CORPO QUE ELA ACHA QUE TEM QUE QUE TEM QUE INTERVIR CIRURGICAMENTE. MAS, ESSA QUESTÃO NÃO TEM A VER COM O REDUCIONISMO DE UM DETERMINADO MODELO DE GÊNERO, DE UMA DESIGUALDADE DE GÊNERO QUE EXIGE DAS MULHERES UM IDEAL DE CORPORAL E QUE OBRIGA QUE ELAS CORRAM ATRÁS DA BUSCA DESSA PERFEIÇÃO. ENTÃO, A GENTE TEM QUE… 

BIA: PRA VOCÊ VER NÉ? É LÓGICO QUE NÃO É PRA, NÃO DÁ PRA GENERALIZAR MAS É… CHEGUEI NAS MINHAS CONSULTAS QUE EU FIZ COM CIRURGIÕES PLÁSTICOS DURANTE A PRODUÇÃO DO EPISÓDIO – EU CHEGUEI, EU NÃO RELATEI PROBLEMA DE AUTOESTIMA, NEM NADA. SÓ FALEI “AH, TENHO POUCO PEITO, TAL” E NEM NÃO FUI QUESTIONADA, NÃO FUI CONVERSADA, NÉ? DIGAMOS ASSIM. NÃO TENTARAM PUXAR UM ASSUNTO SOBRE O PORQUÊ DE EU ESTAR TOMANDO ESSA DECISÃO UM PROBLEMA DE AUTOESTIMA ALGUMA COISA, ASSIM. E VOCÊ PODE ATÉ NÉ? PENSAR QUE “A SE VOCÊ NÃO TIVESSE PROBLEMA VOCÊ NÃO ESTAVA LÁ NÉ?”

HELENA: HUM. 

BIA: SÓ QUE É UMA CIRURGIA, NÉ? É.. MUITO CARA, [MÚSICA INSTRUMENTAL RECOMEÇA] TEM RISCOS VÁRIOS, É UMA OPERAÇÃO, NÃO É UM CORTE DE CABELO. NÃO É UMA MAQUIAGEM. E COMO EU FALEI LÁ NA, NA, NA MINHA CENA INICIAL, AS, A CONSULTA FOI TIPO SUPER-RÁPIDA, DEZ QUINZE MINUTOS. LÓGICO QUE SE EU SEGUISSE ADIANTE EU IA TER O MOMENTO DE ASSINAR UM TERMO COM OS RISCOS NÉ, DA DA CIRURGIA TALVEZ ESSA CONVERSA ATÉ APARECESSE MAIS PRA FRENTE. MAS, NÃO DEVERIA SER MAIS PRA FRENTE NÉ? É…DEVERIA SER NO INÍCIO DA DECISÃO. E O QUE MUITAS MULHERES FALAM É QUE, MESMO QUANDO ESSA DISCUSSÃO APARECE, É TUDO MUITO SUPERFICIAL E ROMANTIZADO, ASSIM. ENTÃO VOCÊ VAI A GENTE VAI REALIZAR SEU SONHO, VAI SER TUDO INCRÍVEL VAI SER TUDO MARAVILHOSO. E…É UM POUCO ISSO, ASSIM. NÃO FICA, NÃO TEM UMA, NÃO PARECE QUE CÊ TÁ NUM CONSULTÓRIO DE, DE SAÚDE, ASSIM. PARECE QUE CÊ TÁ NUMA CLÍNICA DE BELEZA. 

HELENA: UHUM. 

[MÚSICA INSTRUMENTAL AUMENTA DE VOLUME POR DOIS SEGUNDO E VOLTA A FICAR BAIXA]

BIA CONTINUA: O QUE ME LEMBRA O CASO DA TIMMIE JEAN LINDSAY, VOLTANDO LÁ PRA PRA PRA LINHA DO TEMPO, NÉ? LÁ DO, DO, DO SILICONE. EU FALEI DAS DAS PRIMEIRAS TENTATIVAS DE AUMENTAR O PEITO, NÉ? 

HELENA: UHUM.

BIA: A PRÓTESE DA TIMMIE JEAN LINDSAY, QUE FOI A PRIMEIRA PRÓTESE MESMO, DE SILICONE, DEU CERTO. [MÚSICA INSTRUMENTAL ENCERRA] MAS A TRAJETÓRIA DE COMERCIALIZAÇÃO, POPULARIZAÇÃO DESSA CIRURGIA DE AUMENTO DE MAMA FOI CONTURBADA, NAS DÉCADAS SEGUINTES. NÃO FOI UM PROCESSO SUPERPACÍFICO, NÃO. ENTÃO, PRA VOCÊ TER IDEIA NOS ESTADOS UNIDOS O FDA, QUE É A ANVISA DE LÁ, NÉ? AGÊNCIA REGULADORA, CHEGOU A PROIBIR O SILICONE PRA FINS ESTÉTICOS NOS ANOS NOVENTA. ENTÃO, SÓ PODIA PRA FINS REPARADORES – ELES DIZIAM QUE FALTAVA COMPROVAÇÃO DE SEGURANÇA. E AÍ VOLTA A SER LIBERADO, MAS COM MUITO QUESTIONAMENTO POR PARTE DE, POR UMA PARCELA ALI DA COMUNIDADE MÉDICA. E AÍ MESMO MAIS RECENTEMENTE, AO REDOR DO MUNDO, APARECE ÀS VEZES RECALLS, NÉ? 

TRECHO DE REPORTAGEM EM INGLÊS, VOZ FEMININA:  THE FOOD AND DRUG ADMINISTRATION IS RECALLING TEXTURED BREAST IMPLANT… 

BIA: ELES VENDEM A PRÓTESE, UM MONTE DE GENTE COLOCA, MAS AÍ CHEGA UM ESTUDO QUE APONTANDO, QUE AQUELE PRODUTO PODE ESTAR ASSOCIADO COM UMA DOENÇA, UM LINFOMA OU ALGUM OUTRO PROBLEMA.

HELENA: EITA!

BIA: E AÍ ELES FAZEM ESSE RECALL, QUE É NA VERDADE MAIS UMA CONSCIENTIZAÇÃO DE QUEM COLOCOU. “Ó, ESTEJA CIENTE QUE, QUE ISSO AÍ QUE VOCÊ COLOCOU NO SEU CORPO, AGORA A GENTE DESCOBRIU QUE PODE DAR TAL COISA”.

TRECHO DE REPORTAGEM EM INGLÊS, VOZ FEMININA: I COULD POTENTIALLY DEVELOP OR SHOW SIGNS FOR HAVING THIS ALCL CANCER…

[MÚSICA INSTRUMENTAL DE SUSPENSE RETOMA]

BIA: MAS, TUDO ISSO PRA FALAR QUE SE POR UM LADO É UMA OPERAÇÃO SUPER NATURALIZADA. NÃO SÓ ESSA COMO VÁRIAS OUTRAS ESTÉTICAS, POR OUTRO LADO É… TEM UM UM FENÔMENO RECENTE QUE FAZ PENSAR UM POUCO NESSES CONFLITOS ASSIM. ENTÃO… CÊ DEVE TER VISTO OU OUVIDO POR AÍ FALAR NOS ÚLTIMOS ANOS SOBRE EXPLANTE DE SILICONE.

HELENA: QUE É TIRAR O SILICONE? 

BIA: É, QUE É TIRAR O, O SILICONE. PORQUE É…HOJE EM DIA É…JÁ TEM ALGUNS ANOS NA VERDADE, MAS EXISTEM GRUPOS DE REDES SOCIAIS E ORGANIZAÇÕES QUE DISCUTEM O EXPLANTE DE SILICONE. ENTÃO, QUE SÃO PESSOAS QUE COLOCARAM PRÓTESE NO PASSADO, SEJA MUITO TEMPO ATRÁS OU NÃO TANTO TEMPO ATRÁS ASSIM. E QUE HOJE QUEREM TIRAR OU JÁ TIRARAM, NÉ? MAS CONTINUAM DISCUTINDO ESSE ASSUNTO É…E TIRARAM POR DIFERENTES MOTIVOS, SEJA PORQUE OLHARAM PRA TRÁS E E PERCEBERAM QUE EU GOSTAVA, GOSTAVAM MAIS DA VERSÃO NATURAL, DO, DO CORPO, NÉ? DIGAMOS ASSIM. SEJA PORQUE JÁ TIVERAM ALGUMA COMPLICAÇÃO DEPOIS DA CIRURGIA. 

[MÚSICA INSTRUMENTAL ENCERRA]

TRECHO DE ENTREVISTA COM LARISSA: EU COSTUMAVA DIZER QUE PARECIA QUE TINHA UM ELEFANTE SENTADO NA MINHA CAIXA TORÁCICA, QUE ERA MUITO PESADO.

BIA: QUE É O CASO DA LARISSA DE ALMEIDA, A PROFESSORA QUE EU APRESENTEI MAIS CEDO, QUE É PROFESSORA DE PORTUGUÊS, QUE COLOCOU SILICONE…

TRECHO DE ENTREVISTA COM LARISSA: EU NÃO CONSEGUIA REALMENTE RESPIRAR. ENTÃO, EU REAPRENDI A RESPIRAR COM SILICONE NO MEU TÓRAX, NÉ? ENTÃO EU FIQUEI UM MÊS SENTINDO ESSE INCÔMODO. AÍ NA SEQUÊNCIA EU COMECEI A SENTIR O OSSO CHAMADO EXTERNO, QUE É UM OSSO QUE FICA NO MEIO AQUI DO TÓRAX, EU COMECEI A SENTIR ELE ESTALANDO, A CADA VEZ QUE EU RESPIRAVA, ELE ESTALAVA E FAZIA UM BARULHO ESTRANHO. FUI NO ORTOPEDISTA ELE FALOU “Ó PROVAVELMENTE É POR CONTA DA PRÓTESE QUE VOCÊ COLOCOU RECENTE”. ENTÃO EU FIQUEI TRANQUILA, NÉ? AH NORMAL, VAI PASSAR E NÃO PASSOU. E AÍ COM TRÊS ANOS E MEIO DE SILICONE APARECEU A PRIMEIRA CONTRATURA. 

BIA: A LARISSA TEVE UMA TRAJETÓRIA BEM COMPLICADA, ASSIM, DEPOIS DA CIRURGIA DELA. MAS SÓ PRA EXPLICAR O QUE ELA FALOU, QUANDO SE COLOCA A PRÓTESE DE SILICONE, NÉ? O CORPO REAGE A ELA CRIANDO UMA CÁPSULA, ASSIM, EM VOLTA DA PRÓTESE. ISSO É O, É O COMUM..

HELENA: É O ESPERADO DO SILICONE?

BIA: É O ESPERADO, É O ESPERADO ISSO. O PROBLEMA É QUE EM ALGUNS CASOS ESSA CÁPSULA VAI SE CONTRAINDO, SE CONTRAINDO, SE CONTRAINDO, ATÉ VIRAR UMA SITUAÇÃO INCÔMODA – SUPER INCÔMODA PRA VIDA DA PESSOA, QUE DE REPENTE ELA JÁ NÃO CONSEGUE FAZER QUE ELA FAZIA ANTES, SEI LÁ.

HELENA: QUE COISA HORRÍVEL !

BIA: UM EXERCÍCIO DE ACADEMIA, QUE NÃO CONSEGUIA FAZER. NO CASO DA LARISSA ELA FALA QUE TINHA ATÉ DIFICULDADE DE ABRAÇAR, ASSIM O FILHO DELA, ABRAÇAR AS PESSOAS. 

HELENA: NOSSA!

TRECHO DE ENTREVISTA COM LARISSA: E, E ASSIM EU FUI LEVANDO A VIDA COM A CONTRATURA SÓ EM UM SEIO, [MÚSICA INSTRUMENTAL RETOMA] SÓ EM UM E EU PENSAVA, NÉ? SÓ EM UM, NÃO TEM PROBLEMA.DAQUI A POUCO PASSA. E FUI ATRÁS DE FAZER MASSAGENS E TUDO MAIS. E O MÉDICO “NÃO VAI PASSAR, VAI DIMINUIR. TOMA ESSE REMÉDIO AQUI QUE VAI PASSAR”. E NÃO PASSOU! E NÃO FOI PASSANDO, ATÉ QUE COM MAIS OU MENOS CINCO ANOS DE PRÓTESES, A OUTRA APARECEU TAMBÉM. E MUITO MAIS DOR, MUITO PIOR. ENTÃO, EU ME VI NUMA SITUAÇÃO ASSIM, MEU DEUS, E AGORA O QUE EU FAÇO, NÉ? 

BIA: E ISSO QUE A LARISSA TEVE, NÉ, A CONTRATURA É UMA COMPLICAÇÃO RELATIVAMENTE COMUM PRA QUEM PÕE SILICONE. DEPENDENDO DA PRÓTESE VAI TER, SEI LÁ, 5% DE CHANCE, 10% DE CHANCE, 15% DE CHANCE, ACABA VARIANDO CONFORME A PRÓTESE E AÍ TEM QUE TIRAR. MAS VOCÊ VÊ, ATÉ CHEGAR NESSE PONTO, ELA TEVE TODO UM PROCESSO DE TENTAR CONVENCER OS MÉDICOS DE QUE AQUELA SITUAÇÃO NÃO TAVA LEGAL, NÉ? MESMO SENDO UMA CONTRATURA, PORQUE NO CASO DA CONTRATURA ESSE CONVENCIMENTO É ATÉ MAIS FÁCIL, PORQUE É UM DIAGNÓSTICO MAIS ÓBVIO, DIGAMOS ASSIM. MAS O QUE MUITAS MULHERES CONTAM NESSAS GRUPOS É QUE, QUANDO ELAS RESOLVEM EXPLANTAR, POR QUALQUER MOTIVO QUE SEJA, SEJA DE SAÚDE OU NÃO [MÚSICA AO FUNDO SE ENCERRA], MUITO DIFERENTE DAQUELE PRIMEIRO MOMENTO DO IMPLANTE, DE QUANDO ELAS FORAM COLOCAR A PRÓTESE, QUE TEM TODO AQUELE ABRAÇO DO MÉDICO, QUE FALA A COISA DO “A GENTE REALIZAR SEU SONHO, VAI FAZER MUITO BEM PRA SUA AUTOESTIMA, VOCÊ VAI FICAR MUITO LINDA, VAI SER MUITO BOM PRA PRA VOCÊ”. DEPOIS, QUANDO ELAS PROCURAM O MÉDICO PRA TENTAR FAZER O EXPLANTE, PORQUE JÁ NÃO QUEREM AQUILO OU NÃO ESTÃO SE SENTINDO BEM COM AQUILO, O CENÁRIO É TOTALMENTE DIFERENTE, ELAS CONTAM. QUE ESCUTAM, POR EXEMPLO, “AH MAS VOCÊ TEM CERTEZA QUE VOCÊ QUER TIRAR? VOCÊ NÃO QUER TIRAR E E JÁ COLOCAR OUTRA PRÓTESE? AH, VAI FICAR FEIO SEM. TIRAR VAI SER CARO, VAI SER ARRISCADO. VOCÊ NÃO ACHA QUE É SÓ UMA FASE?” NÉ, CLARO QUE ELES TEM QUE FALAR DO VALOR E DOS RISCOS, NÃO É ESSA A QUESTÃO, MAS AGORA ISSO VEM COM MAIS CUIDADO, ENTENDEU? LÁ ATRÁS NÃO ERA TANTO ASSIM.

HELENA: DESSA VEZ RESOLVERAM FAZER PERGUNTAS SOBRE A VONTADE DELA? 

BIA: EXATO, EXATO. E QUEM ME FALOU DISSO TAMBÉM FOI UMA OUTRA ANTROPÓLOGA QUE CHAMA JÉSSICA BRANDT DA SILVA, QUE PESQUISOU O FENÔMENO DO EXPLANTE DE SILICONE E ENTREVISTOU VÁRIAS MULHERES DESSES GRUPOS.

TRECHO DE ENTREVISTA COM JÉSSICA: MAS ASSIM A MESMA PACIENTE QUE ME DISSE “OLHA, EU FUI LÁ, FIZ UMA CONSULTA E JÁ TAVA COM A CIRURGIA MARCADA PRA PRÓXIMA SEMANA”. DEPOIS É A PACIENTE QUE ME DIZ, “NÃO, QUANDO EU FUI TENTAR RETIRAR O SILICONE, ME SUGERIRAM QUE EU TINHA QUE FAZER TERAPIA PRA ACEITAR ESSAS PRÓTESES DE SILICONE”. 

BIA: ELA FAZ DOUTORADO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL E É ORIENTADA PELA FABÍOLA, QUE A GENTE CONHECEU AQUI. 

TRECHO DE ENTREVISTA COM JÉSSICA: E AÍ ENFIM MUITAS HISTÓRIAS DE PESSOAS QUE ESTÃO SE SENTINDO ENGANADAS. POR QUE ELAS FIZERAM CIRURGIAS PLÁSTICAS QUE ERAM VISTAS COMO UMA REALIZAÇÃO, NÉ? QUE SIGNIFICAVA UMA COISA BOA ASSIM, ELAS VIVIAM COMO UMA COISA QUE SÓ PODIA TRAZER COISAS BOAS PRA VIDA DELAS. E AÍ, DE REPENTE, OU DEPOIS DE UM TEMPO, ELAS COMEÇAM A SE SENTIR MAL. ELAS VÃO COMEÇAR A APRESENTAR ALGUNS SINTOMAS, NÉ? ALGUMAS DOENÇAS QUE ELAS NÃO CONSEGUEM REVERTER E NÃO VÃO CONSEGUIR DIAGNÓSTICOS, ENFIM, VÃO FICAR NESSA SITUAÇÃO DE, “MAS EU TÔ ME SENTINDO MAL, EU ME SINTO DOENTE, EU NÃO CONSIGO FECHAR UM DIAGNÓSTICO. E AÍ, O QUE QUE TÁ ACONTECENDO?” ESSA SITUAÇÃO DE INCERTEZA, ASSIM. E… E AÍ, QUANDO ELAS DESCONFIAM DO SILICONE, ELAS PROCURAM ESSAS CLÍNICAS, OS MÉDICOS QUE FIZERAM CIRURGIAS PLÁSTICAS NELAS E…E AÍ O QUE ELAS ME RELATAM É QUE ELAS OUVEM QUE NÃO, ESTÁ TUDO BEM, ESTÁ TUDO CERTO… O SILICONE NÃO PODE CAUSAR ESSES SINTOMAS QUE ELAS ESTÃO RELATANDO, O SILICONE É TOTALMENTE SEGURO… 

[MÚSICA INSTRUMENTAL COMEÇA AO FUNDO]

BIA: MAS EXISTE UMA QUESTÃO AÍ É…QUE EU ACHO QUE VALE A PENA A GENTE FALAR, PORQUE A GENTE ESTÁ NO PODCAST DE CIÊNCIA, NÉ?

HELENA: TÁ!

BIA: ENTÃO ACHO IMPORTANTE FALAR QUE NESSES GRUPOS, COMO EU DISSE, TEM MULHERES QUE ESTÃO ALI E QUE FIZERAM OU VÃO FAZER EXPLANTE POR DIFERENTES MOTIVOS. SEJA PORQUE TEVE RUPTURA DA PRÓTESE, OU PORQUE TÊM MEDO DE ALGUMA DAS CONSEQUÊNCIAS QUE JÁ VIRAM NA MÍDIA, ENTÃO EXISTE UM LINFOMA, POR EXEMPLO, ASSOCIADO À PRÓTESE SILICONE, CHAMADO BIA-ALCL. [MÚSICA INSTRUMENTAL RETOMA]…E ESSAS SÃO COMPLICAÇÕES MAIS RECONHECIDAS PELOS MÉDICOS, DIGAMOS ASSIM, MAIS RECONHECIDAS PELA COMUNIDADE MÉDICA, PELA COMUNIDADE MÉDICA.

HELENA: HUM…

BIA: MAS, EXISTE UM TERMO QUE APARECE MUITO QUE É: DOENÇA DO SILICONE. 

BIA: ENTÃO NESSES GRUPOS TEM MUITAS MULHERES RELATANDO SINTOMAS COMO FADIGA, DEPRESSÃO, DORES NAS ARTICULAÇÕES, ATÉ QUEDA DE CABELO, ENFIM, UM CONJUNTO DE SINTOMAS BEM GRANDE, E QUE RELACIONAM COM A PRÓTESE DE SILICONE. E AÍ DE FORMA MAIS INFORMAL ISSO TEM SIDO CHAMADO DE DOENÇA DO SILICONE. MAS, POR ENQUANTO,[MÚSICA INSTRUMENTAL ENCERRA] A DOENÇA DO SILICONE NÃO É ALGO FECHADO CIENTIFICAMENTE FALANDO. 

TRECHO DE ENTREVISTA COM EMÍLIA: POIS É. ELA APESAR DE SER TÃO DIVULGADA, DISCUTIDA…

BIA: EU CONVERSEI COM UMA, COM UMA REUMATOLOGISTA, UMA MÉDICA REUMATOLOGISTA SOBRE ISSO – QUE É A EMÍLIA SATO, ELA É PROFESSORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO, FAZ PARTE DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA… 

TRECHO DE ENTREVISTA COM EMÍLIA: ELA NÃO É UMA DOENÇA, ELA NÃO TEM UM CID PRÓPRIO, NÉ? QUE É O CÓDIGO INTERNACIONAL DE DOENÇA, NÃO TEM CLASSIFICAÇÃO, PARA ESSA SÍNDROME, QUE ANTIGAMENTE JÁ ERA CONHECIDA COMO SILICONOSE, NÉ? ENTÃO, UMA DOENÇA ASSOCIADA A SILICONE…

BIA: SÓ QUE, NA COMUNIDADE MÉDICA, NA COMUNIDADE CIENTÍFICA, OS ESPECIALISTAS QUESTIONAM SE DE FATO DÁ PRA TER CERTEZA NESSA ASSOCIAÇÃO COM ESSES SINTOMAS, NÉ? QUE ELES DIZEM TAMBÉM QUE SÃO SINTOMAS UM POUCO GENÉRICOS, ASSIM. 

HELENA: SE ELES SÃO REALMENTE RELACIONADOS AO SILICONE OU NÃO, É ISSO QUE FALTA COMPROVAÇÃO?

BIA: ISSO. ISSO! 

TRECHO DE ENTREVISTA COM EMÍLIA: ESTES ESTUDOS FORAM FEITOS E, ATÉ O MOMENTO, APESAR DE VÁRIOS ESTUDOS, EXISTE TRABALHO FALANDO “OLHA PARECE QUE SIM, PARECE QUE TEM UMA RELAÇÃO”. MAS ESTAS É…ESSES ESTUDOS TÊM FRAGILIDADES METODOLÓGICAS. ISTO É, ALGUÉM OLHA O TRABALHO E FALA “AH, MAS ESSE AQUI NÃO TEVE UM GRUPO CONTROLE ADEQUADO, ESTE DAQUI NÃO TEVE COMO COMPROVAR A RELAÇÃO”. QUE ESTE É O GRANDE PROBLEMA. COMO É QUE NÓS PODEMOS COMPROVAR UMA RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO? 

BIA: O QUE OS MÉDICOS ESTÃO QUESTIONANDO É SE ESSES SINTOMAS NÃO SÃO POR OUTRAS CAUSAS. 

TRECHO DE ENTREVISTA COM EMÍLIA: VOCÊ VAI TER PESSOAS QUE APÓS A PRÓTESE DESENVOLVEM DOENÇAS. MAS, ELAS IRIAM DESENVOLVER COM A PRÓTESE OU SEM A PRÓTESE.

BIA: E AÍ PRA BATER O MARTELO E AÍ FALAR NÃO É ISSO MESMO, A EMÍLIA DIZ QUE PRECISARIA DE ESTUDOS MAIS ROBUSTOS, DO QUE OS QUE JÁ ACONTECERAM. ENTÃO É… PRECISARIA DESSES ESTUDOS. SABE ESSES ESTUDOS QUE A ACOMPANHAM PACIENTES POR UM TEMPÃO, ASSIM ANOS. E AÍ AO MESMO TEMPO ACOMPANHOU TAMBÉM UM OUTRO GRUPO DE PACIENTES QUE NÃO COLOCOU PRÓTESE. E AÍ FICA DE OLHO SE O SINTOMA VAI APARECER NUM GRUPO, NO OUTRO E TAL. PRA DE FATO TIRAR A PROVA. É…ENTÃO, ELA DIZ QUE AINDA É EXISTE ESSA INCERTEZA SIM NÉ? GRANDE PARTE DA COMUNIDADE MÉDICA, DIZ QUE EXISTE ESSA INCERTEZA E QUE AINDA NÃO DÁ PRA BATER O MARTELO. MAS É…POR EXEMPLO, NOS ESTADOS UNIDOS HOJE, EM DIA O FDA OBRIGA QUE NA CAIXINHA DA PRÓTESE VENHA TODOS OS RISCOS, ASSIM, NUMA LISTINHA. QUE É PRA, PRA REFORÇAR QUE OS PACIENTES E OS MÉDICOS TENHAM ESSA CONVERSA SOBRE TUDO QUE PODE ACONTECER É…PORQUE MESMO, QUE MESMO COM A INCERTEZA DE ALGUMAS DAS CONSEQUÊNCIAS, MESMO QUE ALGUMAS, ALGUNS RISCOS DEPOIS VÃO SE PROVAR INFUNDADOS ASSIM, NÉ? É… OU MESMO QUE ALGUMAS É..ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS SEJAM RARAS, QUE ISSO TEM QUE FAZER PARTE DA DECISÃO, NÉ? AGORA! PORQUE É O CORPO DESSAS PESSOAS, NA GRANDE MAIORIA MULHERES, QUE ESTÁ EM JOGO.

[MÚSICA INSTRUMENTAL RETOMA]

BIA CONTINUA: E.. EU ACHO QUE INDEPENDENTE DE COMO A HISTÓRIA DA DOENÇA DO SILICONE VAI SER DESENROLADA DAQUI PRA FRENTE, NÉ? EU ACHO QUE NÃO É NEM O FOCO DAQUI A GENTE CHEGAR A UMA CONCLUSÃO. MAS, É… O QUE FICA MUITO FORTE NESSE FENÔMENO DO EXPLANTE, NÉ? QUANDO VOCÊ COMEÇA A OBSERVAR ISSO E CONVERSANDO COM A, COM AS ANTROPÓLOGAS E COM, COM A LARISSA TAMBÉM. É.É ESSE SENTIMENTO DA BANALIZAÇÃO, ASSIM NÉ? ENTÃO, EU VIM EM ALGUNS LUGARES ALGUMAS MULHERES FALANDO QUE SE SENTEM COBAIAS DA INDÚSTRIA DA BELEZA, ASSIM. E COBAIAS DESSA ÁREA DA MEDICINA, QUE CONVERSAM COM A INDÚSTRIA DA BELEZA. PORQUE “AH COLOCAM A PRÓTESE DAÍ ANOS DEPOIS DESCOBREM QUE AQUELA PRÓTESE TEM MAIS RISCO DE DAR PROBLEMA E TAL”. E ISSO ACONTECE COM OUTRAS COISAS TAMBÉM, NÉ? SEI LÁ REMÉDIO E TAL. MAS, POR SER ALGO DA ESTÉTICA E POR SER ALGO, POR SER ALGO QUE TÁ MUITO RELACIONADO AO, AO CORPO DA MULHER ASSIM, É…ELAS ACREDITAM QUE TEM UM CERTO CONFLITO DE INTERESSES NAS PESQUISAS OU ATÉ UMA NEGLIGÊNCIA, QUE AH, NÃO TÃO INVESTIGANDO DIREITO ISSO. PORQUE É.. COISA DE MULHER, ENTRE ASPAS, OU PORQUE É UMA COISA DE BELEZA, NÉ? ENTRE ASPAS. ENTÃO ADICIONA AÍ CAMADAS DE PRECONCEITO [MÚSICA INSTRUMENTAL ENCERRA] QUE ELAS ACREDITAM QUE INFLUENCIA O JEITO COMO É…TODOS TODOS ESSES PROBLEMAS ASSOCIADOS A CIRURGIAS PLÁSTICAS SÃO TRATADOS PELA CIÊNCIA, PELA MEDICINA, ASSIM. E AÍ ELAS, [MÚSICA INSTRUMENTAL RETOMA] E TAMBÉM ELAS NÃO SE SENTEM OUVIDAS NOS CONSULTÓRIOS, NÉ? COMO EU JÁ DISSE, QUE A VONTADE DELAS, ASSIM SÓ VALE QUANDO ESTÁ ALINHADA COM OS PADRÕES DE BELEZA OU COM O QUE A INDÚSTRIA QUER VENDER. QUANDO NÃO ESTÁ A VONTADE NÃO VALE TANTO NÉ? PELO CONTRÁRIO, NÉ? ATÉ UMA CULPA NÉ? “AH VOCÊ QUIS COLOCAR E AGORA VOCÊ ESTÁ RECLAMANDO, VOCÊ QUER TIRAR AÍ”, ENFIM. É UM CENÁRIO SUPER COMPLEXO. 

HELENA: E OUVINDO VOCÊ CONTAR A HISTÓRIA HOJE, ESSAS HISTÓRIAS HOJE, EU LEMBREI MUITO DO EPISÓDIO EM QUE A GENTE FALOU SOBRE A DOR. PORQUE A SARAH FALOU SOBRE COMO EXISTIA, COMO AINDA EXISTE UM VIÉS NA CIÊNCIA QUE VÁRIAS VEZES ACABAVA IGNORANDO A DIFERENÇA ENTRE OS SEXOS E TEM ATÉ UM CERTO PRECONCEITO, UMA CERTA NEGLIGÊNCIA COM AS DOENÇAS QUE SÃO CONSIDERADAS DE MULHER – QUE ERA O CASO DA FIBROMIALGIA, POR EXEMPLO. 

BIA: UHUM

HELENA: É…E ESSA COISA DAS PACIENTES SENDO INDIRETAMENTE CHAMADA DE LOUCA, POR RECLAMAR DE UMA DOR E ACHO QUE FOI IMPOSSÍVEL VER VOCÊ FALANDO E NÃO LEMBRAR DISSO TUDO. 

BIA: É UMA COISA QUE, QUE PASSOU PELA MINHA CABEÇA DURANTE A PRODUÇÃO DESSE EPISÓDIO, ATÉ QUE ME DEIXOU ATÉ, MEIO EM CONFLITO QUE, EU BRINCAVA PENSANDO, ASSIM, “AI EU NÃO QUERO QUE PAREÇA QUE A GENTE ESTÁ NEGANDO A CIÊNCIA, QUE É TÃO IMPORTANTE PRA GENTE, NÉ?” [MÚSICA INSTRUMENTAL ENCERRA] CLARO! MAS, MAS TAMBÉM A GENTE TEM QUE TER LIBERDADE PRA DISCUTIR, NÉ? E A POSSIBILIDADE DAS COISAS, DE COISAS ESTAREM ACONTECENDO. MAS A GENTE NÃO PODE, DEFINITIVAMENTE A GENTE NÃO PODE CRAVAR QUE “AH NÃO ESSA DOENÇA EXISTE, MAS ESTÁ SENDO NEGLIGENCIADO PORQUE É DE MULHER”. ENTÃO A GENTE NÃO, A GENTE NÃO SABE. A GENTE NÃO, NÃO SABE ISSO. PODE SER QUE SE CONFIRME, PODE SER QUE NÃO. É…MAS EU ACHO QUE O PONTO NEM É ESSE. ACHO QUE AQUI, É UMA COISA QUE A GENTE TEM CERTEZA AQUI NESSA SÉRIE, É QUE EXISTE ESSE PASSADO CONFLITUOSO QUE, QUE ÀS VEZES, NÃO É TÃO PASSADO, ASSIM, NA MANEIRA COMO A CIÊNCIA E MEDICINA LIDAM COM O CORPO FEMININO, É… LIDAM COM O GÊNERO, É…QUE FOI JUSTAMENTE O MOTIVO DA GENTE FAZER ESSA SÉRIE, NÉ? ENTÃO, MAIS DO QUE CHEGAR A CONCLUSÕES, NÉ, EU ACHO QUE A GENTE CHEGA NO, NO FINAL DESSA SÉRIE COM ESSA SENSAÇÃO, ASSIM DE QUE É..COM ESSA CERTEZA ATÉ, DE QUE OS PROBLEMAS ELES NÃO FICAM PRA TRÁS, NÉ. DE QUE A GENTE TEVE ESSA TRAJETÓRIA CONFLITUOSA QUE NÃO FICA PRA TRÁS. ELA DEIXA HERANÇAS, NÉ? ENTÃO A GENTE VIU VÁRIAS DESSAS HERANÇAS, NÉ? AO LONGO DOS EPISÓDIOS. ENTÃO, ACHO QUE DEPOIS DE TUDO QUE A GENTE PESQUISOU, EU ACHO QUE A CONCLUSÃO É MEIO SIMPLES. [BIA RI] MAS, A CONCLUSÃO QUE A GENTE TIRA É QUE A GENTE TEM QUE FALAR DESSAS HERANÇAS, NÉ? A GENTE TEM QUE BRIGAR PRA QUE ELAS SEJAM CORRIGIDAS. A GENTE TEM QUE TÁ ATENTA E NÃO TER MEDO DE DE DISCUTIR ELAS, NÉ? EU ACHO QUE ISSO É… É O MAIS IMPORTANTE! QUE NO FIM SÃO OS NOSSOS CORPOS QUE ESTÃO EM JOGO. ENTÃO ACHO QUE É MEIO ISSO.

[MÚSICA DE ENCERRAMENTO] 

SARAH: A SÉRIE CORPO ESPECULADO É UMA PARCERIA ENTRE A REVISTA AZMINA E O PODCAST TRINTA E SETE GRAUS, PRODUZIDA COM O APOIO DO INSTITUTO SERRAPILHEIRA, QUE FINANCIA A PESQUISA E A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO BRASIL. ESSE FOI O ÚLTIMO EPISÓDIO DESSE PROJETO ESPECÍFICO, MAS VOCÊ PODE, E A GENTE QUER MUITO QUE VOCÊ CONTINUE ACOMPANHANDO O NOSSO TRABALHO. 

HELENA: SE VOCÊ AINDA NÃO OUVIU AS TEMPORADAS ANTERIORES DO TRINTA E SETE GRAUS, FICA AÍ A DICA. É SÓ PROCURAR TRINTA E SETE GRAUS NO SEU APLICATIVO DE PODCAST E MARATONAR. LEMBRA DE ASSINAR O CANAL E ACOMPANHAR O @TRINTAESETEPODCAST NAS REDES SOCIAIS PRA SABER DAS TEMPORADAS FUTURAS. JÁ O TRABALHO DA REVISTA AZMINA VOCÊ ACOMPANHA NO SITE AZMINA PONTO COM PONTO BR. E NAS NOSSAS REDES SOCIAIS – COM @REVISTAAZMINA, TEM SEMPRE REPORTAGEM, COLUNA E VÍDEO FRESQUINHO. 

SARAH: ESSE EPISÓDIO FOI PRODUZIDO E EDITADO POR BIA GUIMARÃES. A EQUIPE DE PESQUISA, PRODUÇÃO E ROTEIRO DESSA SÉRIE TAMBÉM CONTA COM JONAS FAREZ, MARÍLIA MOREIRA, HELENA BERTHO E SARAH AZOUBEL. A TRILHA SONORA É DA MARIANA ROMANO E AS ARTES DA CAPA SÃO DE BÁRBARA MIRANDA E JÚLIA SANTOS. COMO SEMPRE, OS MATERIAIS USADOS NA PRODUÇÃO DESSE EPISÓDIO, A TRANSCRIÇÃO E OS CONTEÚDOS BÔNUS ESTÃO NOS LINKS QUE ESTÃO NAS NOTAS DO EPISÓDIO. A TRANSCRIÇÃO É POR RENATA ZIOLI DIAS.